segunda-feira, 2 de julho de 2012

Capítulo 03


Capítulo 03

Viajem a Cidade Templo

Cidade Templo de Luxor, Território Possowry.


Tales viajara para a cerimônia da Consagração, um ano após o nascimento dos garotos. O Sacerdote Possowry Urbi organizaria a cerimônia, que seria realizada na cidade templo de Luxor, e Tales a adiou por muito tempo. Com a Guerra se aproximando, os Rebeldes agindo cada vez mais ousadamente no território imperial, e as tensões entre as cidades do sul, que precisam de proteção, e as do norte, que se recusam a ajudar, aumentando a cada dia, um simples ritual simbólico não era prioridade. Mas a situação se tornou insustentável quando alguns tigres chegaram a capital, exigindo que os meninos fossem levados por eles mesmos até Luxor.
E era lá que a comitiva imperial se encontrava, após uma breve pausa de um dia na cidade de Argos, para reuniões com Lord Cyrus, o Senhor da Cidade. Argos é uma cidade pequena. Localizada entre a capital e a cidade de Korydallos, grande mineradora, era responsável por revender ao exército o aço mais famoso dos homens. Cyrus recebeu a comitiva Imperial no seu gelado Castelo das Sombras, com suas gigantescas paredes de pedra fria e úmida. Durante a reunião, Tales, Rob e Teronk pediram que Cyrus reunisse seu pequeno exército, grande o bastante para guarnecer a cidade.
_ Preciso saber ao menos o porquê! – Exigiu o austero e ríspido homem. Não queria assustar a população nem deixar os soldados tensos à toa. – Preciso saber o que realmente está acontecendo.
Rob levantou-se da cadeira, e tomou a palavra, antes que Tales pudesse responder.
_ Recebemos recentemente um assustado pastor de ovelhas da região entre Sykies e Trikalia. Trazia notícias de um assassinato ocorrido há poucos dias. No corpo da vítima, foi encontrado o símbolo dos Renegados. A Caveira em Chamas. Sabe o que isso significa?
Cyrus era um homem lógico, imponente, tão frio quanto seu castelo. Mas sabia muito bem do que se tratava desta vez. Renegados em terras do Império, era uma declaração aberta de guerra. E Cyrus, apesar de não ter vivido uma, conhecia bem as conseqüências da guerra. Quando falou, sua voz tinha um tom sombrio.
_ Significa que reunirei o meu exército o mais rápido possível. Ficaremos a sua disposição, meu senhor. – Fez uma leve mesura, e Rob soube que chegara onde queria. Tales tomou a palavra.
_ Agradecemos sinceramente. Pyrgos já nos prometeu tropas prontas para a defesa da capital. E Sykies e Trikalia já estão em alerta total. Enviarei tropas auxiliares, já que a Guarda da Cidade não é muito grande em Sykies. Realmente espero que essa tensão não passe disso. Se os Dragões e os Renegados nos atacarem, a situação se tornaria perturbadora, e teria início a Terceira Grande Guerra. – Seu rosto expressava toda a preocupação que o conflito que se anunciava causava. – E se essa tiver início, sem dúvidas quero os poderosos Guerreiros de Gelo lutando ao meu lado.
Partiram de Argos no alvorecer do dia.  A comitiva dirigiu-se para a travessia do temido Cânion Meteora. A formação rochosa erguia-se perigosamente de ambos os lados, com seus quase dois mil metros de altura. O rio Fântaso esculpiu a rocha durante centenas de milhares de anos, percorrendo uma distância de quase cem quilômetros. A paisagem, um tanto quanto desolada, é cheia de pequenas cachoeiras, plantas rasteiras e pedras pontiagudas. Apesar de arriscada, a travessia foi calma. Assim que deixaram a última pedra vermelha para trás, a paisagem mudou drasticamente. Estavam diante de um grande pântano, fétido e gelado. Uma das regiões mais desertas de toda Dymond, quase tão desolada quanto os desertos de Djeziré, nas terras dos Dragões. Rodearam o pântano durante alguns dias, enfrentando moscas assassinas e crocodilos, até chegarem à cidade de Korydallos, no topo de uma nova cadeia de montanhas, uma divisa entre o território dos homens e o dos Possowry. Grande centro militar, e detentora de uma das maiores minas de diamante do mundo, Tales foi recebido com pompa pelo Senhor Pérgamo, guardião da cidade e vassalo de Tales, mas apenas passou pela cidade. Todos sabiam que o Ritual de Consagração aguardava os príncipes em Luxor, e a maioria iria se dirigir a Cidade Templo.
Pouco depois, começaram a travessia dos Quatro Montes, que lembravam a vitória dos quatro deuses sobre os antigos demônios que andavam pelo mundo em tempos primordiais, enviando-os para o Submundo, através dos Pântanos. Rob era o mais entusiasmado da caravana imperial, falando sem cessar sobre suas venturas pelas terras Possowry quando jovem. Teronk o acompanhava, trotando com seu azalão negro ao lado do malhado de Rob. Tales ia na carruagem principal, guarnecido por dez guerreiros poderosos de cada lado. Juntamente com ele, Líncerat e os dois meninos, agora com um ano de idade, dormitavam infelizes com o balanço do carro.
Quando passaram pelo primeiro portal dourado que indicavam a direção até Luxor, já estavam na estrada há quinze dias. O portal era de ouro maciço, com o estigma imperial encrustado de pedras preciosas, brilhando a luz da manhã. Dois homens trajando uniforme militar, com uma túnica azul e vermelha sobre a cota de malha. Suas espadas longas refletiam em tons de prata a luz da aurora, sedentas por uma batalha. Estavam posicionados antes do portal, já que o outro lado já era responsabilidade dos tigres. Saudaram a caravana imperial, enquanto Tales aproximava-se em seu cavalo.
_ Seja bem vindo ao Portal de Hers, soberano. – Saudou o maior dos dois, curvando os joelhos e apoiando o peso do corpo na espada. Repetiu as palavras que se devia repetir a todos os homens que cruzassem a passagem, fosse Imperador ou não. – A partir daqui, os homens e qualquer outra criatura é sujeita a lei sagrada dos Quatro, e ao julgamento dos Guardiões da Vida.
_ Obrigada por cumprir seu dever bem, soldado. – Disse solenemente Tales. Não deixou que o homem soubesse de sua ansiedade para rever as possantes e poderosas criaturas que guardavam o outro lado. – Passaremos, apesar do seu aviso. Somos aguardados pelos sacerdotes Guardiões da Vida.
O outro homem era menor e mais jovem, porém tinha braços claramente mais musculosos. Tales soube que a entrada para as terras de seus antigos amigos estava bem guardada. Rob e Teronk aproximaram-se para abrirem a passagem.
_ Pois bem, vamos lá. – Disse o velho, estalando os dedos. – Faz muito tempo que não faço essa magia. Mas é como a fala, uma vez aprendida não se pode esquecer.
_ Pensei que fosse permitir que o irmão da Rainha tivesse a honra... – Teronk fingiu um tom magoado.
_ Na magia não há privilégios para grandes ou pequenos, ricos ou pobres, altos ou baixos. – Deu uma piscadela ao elfo, que sorria. – Apenas privilégios aos mais sábios.
Tales deu uma gargalhada feliz, e Teronk fingiu estar mais magoado ainda. Da carruagem, um dos meninos brigava com Líncerat na língua primitiva que apenas os bebês se comunicavam. Tales e Teronk se dirigiram a carruagem, enquanto Rob se preparava para realizar o feitiço. Funcionava como uma chave. Havia um código mágico gravado nos umbrais do portal, que respondia à pergunta feita pelo viajante. O Supremo Conselheiro gritou com voz solene.
_ Qui vivere post te? – Na porta, um rosto de tigre brilhou, revelando um símbolo até então invisível. Rob sorriu, ao ver que a magia fluía por seu corpo através da porta. Havia sido forjada pelos próprio tigres com magia, tão antiga e poderosa quanto a dos Dragões.
_ Qui possunt vobis? – O brasão imperial surgiu brilhante, fazendo o sorriso no rosto de Rob ficar imenso.
_ Quem timeas?
Um Dragão se acendeu em chamas vermelhas, e a expressão de Rob se tornou pedra. Ouve um momento de apreensão, e então uma espécie de camada de energia quase invisível se rompeu, abrindo o portal. Só então eles perceberam a presença dos Possowry.
Detrás do portal, caminhando em passo lento e majestoso, dois tigres enormes, do tamanho de um cavalo puro sangue, com pelo espesso e de coloração branca com listras pretas perfeitamente desenhadas. Tinham olhos grandes, em forma de fenda que pareciam ter o poder de enxergar o espírito primitivo dos seres.
Tales se adiantou, passando por um Rob demasiadamente contemplante. Sorriu para os Possowry, reconhecendo o mais velho como Urbi, o Sumo Sacerdote. Fez uma reverência, mostrando que o império ainda se prostrava diante da Religião Elementar. Toda a comitiva fez o mesmo, seguindo o exemplo do Imperador. Estavam diante das criaturas mais próximas aos deuses.
_ Salve Tales, O Justo, nono imperador de Dymond, Jaummer e das Ilhas da Fúria, filho dos homens e guardião da paz. – Quando falou, sua voz fazia algo remoto se mover dentro de homens e elfos. Algo ligado ao mundo antigo, quando os deuses ainda habitavam entre eles. Era também uma condutora de paz e por um momento, sentiram-se diante do Okeanus com sua vastidão e poder.
_ Salve grande Urbi, Sumo Sacerdote da Religião Elementar, e senhor da cidade-templo de Luxor. Tales, seu amigo fiel reclama o Ritual para seus herdeiros. – Tales estava preocupado. Nunca houvera em Dymond gêmeos na linhagem imperial. Qual seria a reação dos sacerdotes, ainda lhe era um mistério.
_ Seus filhos são meus imperadores, majestade. Luxor aceita, como o faz há séculos. – Virou-se e começou a caminhar vagarosamente em direção as montanhas azuis do horizonte. – Acompanhem-me até a cidade-templo, e me permitam guia-los até seu destino.
Havia uma espécie de silêncio mortal na caravana. Fora o choro de Lexis, vindo da carruagem, apenas o som das rodas se movendo quebrava a quietude. Rob se aproximou de Teronk e sussurrou-lhe aos ouvidos.
_ Sabe quantos anos fazem desde que o último Cavaleiro Feroz se foi?
Teronk sempre fora um entusiasta da questão da extinta ordem lendária que expulsara os dragões das terras do Império. Apesar de estar exausto com a viajem, um sorriso escapou-lhe dos lábios. A resposta veio rápida.
_ Exatos duzentos e cinquenta e oito anos da era do Império. A ordem foi extinta logo após o fim da Segunda Guerra, no topo do Monte Valdar.
Rob soltou uma gargalhada. Tales olhou para trás, e por um momento pareceu querer voltar e perguntar qual o motivo da risada. Mas continuou, e Rob nem se importou.
_ Essa é apenas a história oficial meu caro. Na minha última visita aos tigres, alguns anos atrás, descobri que alguns dos ensinamentos são guardados e cultivados por alguns dos clãs mais poderosos. Os próprios Trystan mantêm um ou dois mestres na arte da guerra. Só lhes faltam os cavaleiros.
_ Interessante... – Murmurou o elfo, sem perceber.
_ Interessante demais. É bom que os dragões fiquem fora do nosso território por mais um tempo, ou vão ter que enfrentar seus maiores pesadelos novamente. – Os olhos do velho mago dançavam em seu rosto, numa expressão mista de satisfação e desafio. – Espero que não tenham se esquecido da força esmagadora de uma mordida feroz e cheia de magia de um tigre.
Teronk não podia esconder o fascínio em seu semblante. Saber que a Ordem ainda vivia secretamente nas gélidas montanhas do norte deixava-o extremamente feliz. Por anos pesquisara as leis que a regiam, seus membros mais conhecidos e seus feitos heroicos que mais de uma vez, salvaram o Império de derrotas que seriam devastadoras. Quando jovem, sonhara montar um Possowry, um branco e majestoso como os dois que os guiavam naquele exato momento. Mas a partir da última guerra, quando sua mãe morrera diante dele e de Líncerat, resolvera lutar para evitar as Guerras, ao invés de sonhar com elas.
O elfo reduziu o trote do cavalo, emparelhando com a carruagem em que Líncerat se encontravam com os meninos. Com a bainha de Fúria da Noite, sua espada, ergueu a cortina de leve. Sua bela irmã dormia, com Heitor e seus cabelos dourados como o mais puro ouro ao lado. Lexis estava embolado com as sedas de uma cesta, rolando e rindo, com as orelhas pontudas mais realçadas graças aos cabelos mais densos que os de Heitor, além de negros como a noite mais escura. Sorrindo, Teronk achou o garoto extremamente parecido com um filhote de gato.
_ Tenho grandes planos para você, meu caro amiguinho... – Sussurrou, afastando-se sem que Líncerat acordasse.


A viajem continuou por mais algum tempo. Com a altitude, a temperatura caiu drasticamente, e todos precisaram vestir casacos e controlar a respiração devido ao ar rarefeito. Mas logo iniciaram a decida, através de uma estrada pequena, mas bem cuidada. Tales ia conversando com dois tigres que, passadas as formalidades, se mostraram bastante dispostos a conhecer mais o Imperador. Teronk seguia-os de longe, com os olhos cheios de vivacidade, enquanto Rob ia junto das carruagem dos nobres mais adiante. Um homem de meia idade, com a barba por fazer e olhos azuis como o céu se aproximou dele. Vestia uma longa túnica verde e carmesim, com uma pesada corrente dependurada no pescoço.
_ Posso acompanha-lo, meu senhor? – Os olhos perscrutaram o rosto de Teronk, em busca de uma reação, mas o elfo se manteve calmo.
_ Pode sim Aaron, meu velho amigo. – Apesar da expressão calma, sua voz soou fria. – Espero que esteja anotando toda a viajem para seus livros...
_ Mas é claro, foi para isso que vim. Nós cronistas estamos sempre seguindo vocês poderosos e absorvendo suas vidas para conta-las as próximas gerações.
Teronk dissera isso há pouco tempo, em uma reunião do Conselho. Não gostava de Aaron pelo fato de ele ter ascendido a corte sendo um mero Cronista e se tornado amigo de Tales tão rapidamente. Sempre que o homem concluía uma das Crônicas de Tales, Teronk achava seu personagem demasiado egoísta e mesquinho. Tornara-se então um crítico atroz do trabalho do contador de histórias.
_ Meu poder é tão intangível quanto o seu, meu caro. Espero que não leve minhas observações pelo lado pessoal.
Caminharam mais algum tempo, em silêncio. A estrada fazia curvas sinuosas, e por vários momentos, a comitiva ficou apreensiva. Mas não ocorreram grandes problemas, já que a experiência dos tigres era enorme.
_ O que acha que vai acontecer hoje à noite cronista? – Ao ver o olhar inquisitivo de Aaron sobre ele, Teronk se justificou. – Você assistiu ao Ritual de Tales, eu não. E leu sobre estes rituais místicos em seus secretos livros antigos.
_ Não sei bem o que esperar, mas pode ser uma grande surpresa. O comportamento dos deuses é bem impetuoso, e por maior que seja a sabedoria de um homem, existem coisas que não são passíveis de conhecimento. Os motivos que os Quatro possuem ao escolher um Consagrado são insondáveis.
_ Disso eu sei cronista, não me tenha por um tolo que chegou a Ordem Sagrada apenas com meus títulos. Quero saber sobre o fato de serem dois os herdeiros, ao invés de um. – Teronk tinha os olhos negros cheios de raiva, considerando-se zombado.
_ Me desculpe senhor, se o ofendi. – Uma falsa sombra de arrependimento passou sobre os olhos de Aaron. – Acredito que apesar de tudo, os deuses serão compreensivos.
Teronk virou-se bruscamente. Notara o tom de acusação com Aaron proferira tais palavras. E não gostara nem um pouco.
_ Espero ter entendido errado, meu caro amigo. Pois se estiver insinuando que o amor de tales e Líncerat, um dos mais puros que este mundo já viu, é de alguma forma errado, juro que ordenarei que lhe arranquem a língua e a sirvam ao seu recém nascido herdeiro. – Aaron sentiu uma imensa força vinda da direção do elfo, algo esmagador e frio, uma ameaça carregada de fúria. – O que me diz?
Trêmulo, o cronista se curvou sobre o cavalo. A comitiva inteira havia parado, e Rob se dirigia trotando ao local em que eles se encontravam.
_ Me perdoe Teronk, mas engana-se a meu respeito. Não sou seu inimigo e nem tampouco de Tales. Apenas não controlo as palavras quando falo tão bem quanto quando escrevo. Esse é um mal crônico de nós cronistas. – Havia sinceridade em suas palavras, e assim que Rob chegou, Aaron sentiu a pressão diminuir.
_ Espero que guarde esta arma, meu príncipe. – Rob olhava calmo para Fúria da Noite, com sua lâmina de cristal negro vibrando de magia e ódio. O cronista olhou-a incrédulo, sem saber em que momento a espada havia sido desembainhada. – Sabe como os tigres ficam desconfortáveis com espadas sendo empunhadas em seu território, não é mesmo?
Teronk recolocou a espada na bainha, e sem dizer mais palavra, se dirigiu ao fim da comitiva, junto ao exército. Rob ajudou Aaron a se recompor e fez sinal para que Tales e os Possowry continuassem.
_ Meça suas palavras meu caro contador de histórias. Nosso jovem elfo é temperamental e assim como a tempestade de verão, pode chegar do nada e deixar um caminho de destruição.
A viajem correu sem mais incidentes, até que um vale se anunciou no fundo da cordilheira. Era belo, e um grande lago se formava com a água cristalina que descia do topo dos montes. Entre o lago e a terra, uma enorme cidade se erguia. Com ruas extremamente largas, ao invés de casas e comércio, havia entre elas apenas jardins, elevados ou não, com todo tipo de plantas. Todas essas ruas gigantescas guiavam até uma construção em forma de pirâmide, com cerca de cento e cinquenta metros de altura. Toda a construção era rodeada por jardins suspensos, que pareciam uma floresta em pleno ar.
_ Bem vindos à Luxor, a Cidade Templo! – Anunciou Urbi.
Havia alguns elfos, magos convidados para a cerimônia, e uma quantidade enorme de Possowry nas ruas, enquanto a comitiva passava solene. Teronk observava tudo curioso, admirando a beleza da arquitetura da cidade, e se perguntando se teria realmente sido edificado por Vesi, o deus da água. Havia no ar um aroma agradável, um misto de brisas marinhas e flores raras. Tales chamou por Teronk e Rob, assim que chegaram a base da construção principal, onde uma enorme porta de pedra estava suspensa no ar.
Ambos, mago e príncipe, foram convidados de forma solene para entrarem, juntamente com a família imperial, nas Câmaras Sagradas de Luxor, e ali repousar até a cerimônia, que seria realizada na manhã seguinte. O interior da pirâmide era tão grande quanto parecia por fora. Corredores largos e altos, com gravuras pintadas em todas a paredes, cômodos do tamanho de palácios além de artefatos em ouro e diamante.
 O restante da comitiva acamparia do lado de fora. Rob e Teronk ficaram em uma grande ala mobiliada, do tamanho do Salão Principal de Jaummer, com cortinas de pura seda e cestas de frutas silvestres do vale. Ambos banharam-se em uma pequena piscina com águas mornas e levemente perfumadas, e vestiram as túnicas de seda utilizadas nos principais rituais religiosos. Após se alimentarem, Rob estava prestes a começar um exercício mágico com Teronk quando a porta se abriu e o tigre mais jovem que os havia guiado até a cidade surgiu. O Possowry se aproximou de Rob, e revelou dentes branquíssimos quando sorriu.
_ Espero que esteja se divertindo, sábio Supremo Conselheiro.
_ Meu caro Nathifa, O Puro, grande e poderoso Guardião da Vida. Sua cidade é um espetáculo, não importa quantas vezes a vejo! – Rob tinha visitado as terras Possowry antes, todos sabiam disso. Teronk se perguntou qual seria o nível da amizade dele com os nortenhos.
_ Queira me seguir, tu e o filho dos elfos, Príncipe da casa Hellsy, grandes senhores do passado. Tales e Urbi requisitam suas presenças.
Seguiram-no em total silêncio. Percorreram vários corredores, com as imagens sagradas gravadas nas paredes de todos eles. O tigre caminhava com passadas calmas e firmes, altivas e nobres. Teronk ainda se admirava do poder que podia sentir emanar daqueles seres. Lembrou-se do pavor e ódio que o Dragão que matara sua mãe exalava, e não pode deixar de pensar que o que vinha do Possowry era exatamente o oposto. Paz e alegria.
Chegaram por fim a uma sala semelhante aquela que haviam deixado, mas muito mais movimentada. Líncerat tentava fazer Lexis entrar em uma banheira, enquanto Acácia, sua serva, tentava manter Heitor acordado. Urbi estava deitado, com Tales acomodado em almofadas a sua frente. Nathifa se dirigiu até Urbi, e numa reverencia que Teronk achou inusitada, tocou-lhe a testa com o focinho. Rob se apressou em sentar ao lado de Tales, e Teronk o seguiu. O Imperador iniciou a conversa.
_ Sabem que não sou um homem de meias palavras, então vou direto ao assunto. – Rob sabia que quando Tales falava dessa maneira, era realmente sério. – Quero que meus filhos sejam pupilos de mestres diferentes. Portanto, decidi que cada um de vocês irá escolher um dos meus herdeiros para cuidar e ensinar até que seja chegada a hora de decidirmos qual dos dois será o novo Imperador de Dymond.
Rob piscava, surpreso e feliz. Teronk tinham uma expressão inexpugnável.
_ Ficarei honrado em cuidar de Lexis, meu senhor.
Rob ficou ainda mais surpreso pela velocidade com que Teronk respondera. Levara tempo demais absorvendo a informação, e Teronk havia imposto sua vontade ante a dele.
_ Rob, tem alguma ressalva em ser o mestre de Heitor?
Rob piscou mais uma vez, e sorriu. Teria escolhido o jovenzinho de cabelos claros e olhos calmos de qualquer maneira.
_ Não senhor, ficaria extremamente honrado.
Líncerat se aproximou de onde estavam. Tinha Lexis, finalmente banhado no colo. Olhou sorrindo para os dois homens que seriam responsáveis pela educação de seus filhos, e abriu ainda mais seu coração.
_ Espero que não se cansem de meus pestinhas.
Todos riram, cheios de alegria. O ritual estava mais próximo do que nunca. E com ele, toda aquela alegria momentânea seria esmagada por uma tristeza vindoura.


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