Capítulo 2
A Profecia Negra
Cidade Proibida, Território dos Dragões.
Lydul puxou o capuz para que encobrisse ainda mais seu rosto. Estava de noite, mas os cabelos claros do elfo poderiam denunciá-lo, e esse não era o plano. Apertou ainda mais o passo, ao ver dois homens conversando numa das esquinas. As ruelas da Cidade Proibida além de fétidas e sujas eram o esconderijo perfeito para os piores ladrões de toda Dymond. Havia uma estranha movimentação de homens armados, não que isso fosse incomum, mas o elfo não se lembrava de serem tantos. Estariam organizando um exército?
Virou-se várias vezes, para certificar-se de não estar sendo seguido. Havia alguns naquelas terras que ainda estavam a serviço do Imperador, então ninguém era confiável. Entrou sorrateiro em uma das pequenas portas de madeira. Encontrou-se em uma sala pequena, nua de mobília, com apenas um pequeno candelabro velho pendurado no teto esparramando uma luzinha fraca e sem vida no recinto. Demorou a ver o homem sentado num dos cantos da sala. Assim que o homem levantou o rosto, Lydul reconheceu-o. Fez uma pequena reverência.
_ Mestre! Encontrei aquilo que me ordenou buscar. – Retirou do bolso interno da túnica um embrulho pequeno. – Asseguro-lhe que não foi tarefa fácil, mas seu humilde servo trabalhou ferozmente durante o longo tempo em que estive viajando.
Com uma expressão apática diante da bajulação do elfo, o homem levantou-se silencioso. Apanhou o embrulho, e tirou dele um pequeno mapa. Estendeu o mapa sobre o chão, e observou-o atentamente por alguns minutos. Tirou a camisa que vestia, e com uma faca tirada do bolso, desenhou uma réplica muito mal feita do mapa no próprio dorso. Quando terminou, não era possível distinguir o desenho, por causa do sangue que escorria. Vestiu a camisa novamente.
_ Destrua. – Disse com uma voz surpreendentemente calma e jovial. – Com magia de preferência. Ninguém além de mim deve ter conhecimento desse mapa. E muito menos do que ele guarda. Entendeu?
_ Sim, mestre!
O elfo olhou atentamente para o mapa, até que ele incinerou-se, e virou cinzas.
_ Por que não nos encontramos em sua casa? – A pergunta já era esperada pelo mestre.
_ Desde que partiu meu caro Lydul, as coisas não vão bem nessas terras. Existem agentes do Império vivendo aqui, e pode ser difícil detectá-los. Nossos agentes enviaram um recado a Tales, e se aquele verme for esperto o suficiente, já estará movendo seus homens para o sul. Temos de nos adiantar. Encontrar-me-ei com o Rei Dragão para acertar detalhes da invasão. – Lydul não gostava da guerra. Mas era preciso destruir o mundo como ele o conhecia para que a Era dos Dragões pudesse começar. – Se Tales mover seus exércitos para o sul, temos cerca de dez mil soldados para tomarmos as cidades de Trikalia e Sykies. A partir daí, entraremos em combate direto com o Império.
Lydul nunca tinha visto uma guerra, mas sabia que era algo muito terrível. Queria que não precisasse ver uma. No entanto, se era importante para o mestre, ele apoiaria.
_ Que a força do Rei Dragão esmague seus inimigos.
_ Agora arrume uma maneira de se esconder durante a noite. Sabe que elfos não são bem vindos nesta cidade, já que sua raça serve como cães aquele maldito Imperador.
Lydul sentiu-se ofendido, e automaticamente, respondeu.
_ Assim como a sua...
Os olhos calmos do homem caíram sobre o elfo, que se encolheu. Seu corpo era alto, musculoso e seus olhos pareciam faiscar. O elfo, apesar de pequeno e aparentemente submisso, era esguio e rápido.
_ Meu povo se une a cada dia que passa com os exércitos renegados de Metraton, enquanto a malquista Imperatriz amaldiçoa toda essa terra com herdeiros daquele bastardo do Tales. – Havia ódio em sua voz, e seu rosto ostentava uma expressão brutal. – O Grande Rei não deveria aceitar nenhum da sua estirpe em suas fileiras.
_ Sim, mestre. Perdoe minha insolência.
Sem dizer mais nenhuma palavra, o elfo se retirou. Notou que o local do encontro e as roupas do mestre, não condiziam mais com á glória de outros tempos. Provavelmente os negócios iam mal. Quando partira, o mestre morava em uma grande casa, e era cercado por guardas. Não importava. Lydul lembrou-se da Profecia, da missão de ambos. E lembrou-se também do ódio que sentia dos seus iguais.
Resolveu parar em uma taverna, para beber a sua saúde e por ter escapado com vida de uma discussão com o mestre. O nome da taverna era Perdição. Havia muita fumaça, dos muitos cachimbos dos piratas, o que tornava o ar na Perdição quase irrespirável. O elfo aproximou-se do balcão e pediu uma dose dupla de vinho das Montanhas, a bebida que ele mais apreciava. Era adocicado, mas ao mesmo tempo forte.
A taverna Perdição era barulhenta. Dezenas de piratas se aglomeravam para beber, comer, brigar e arrumar prostitutas para lhes aquecer a cama. O porto da Cidade Perdida era quase tão movimentado quanto o de Jaummer, mas os navios que ali aportavam exibiam bandeiras negras e caveiras, diferentemente das quatro cores dos navios oficiais. O elfo suspirou, observando os malditos do mar. Ele escapara de ser bucaneiro por pouco.
***
Logo que fugiu de GilLel, a cidade verde dos elfos, por ter assassinado um amigo, Lydul foi abordado por um grupo de piratas. O líder deles, Alfeus, queria vendê-lo como escravo. Mas assim que atracaram na Cidade Proibida, Lydul mostrou-se um bom mago, o que encantou Alfeus. Portanto decidiu que não iria vendê-lo. Mas um homem poderoso da cidade interessou-se pelo elfo, e como Alfeus recusou-se a libertá-lo, o homem contratou assassinos mercenários, que o mataram.
Lydul foi levado até o mestre, e este lhe pediu que se unisse a causa do Rei Dragão contra o Império. Ressentido com as intempéries que lhe tinham acontecido, e culpando a lei do Império, que condenava a morte os assassinos, o elfo aderiu à causa. Por algum tempo, trabalhou na casa do mestre, ajudando-o a decifrar códigos mágicos de livros antigos, livros que não deveriam ser lidos por homens. Mas Lydul não se importava mais com as regras, haviam quebrado todas elas, e agora o mestre era tudo o que lhe restava.
Então, um dia o mestre lhe pediu que o acompanhasse a uma viagem. Sem questionar, partiu para as montanhas desoladas do Grande Deserto. Após vários dias de caminhada, eles chegaram a uma gruta oculta no coração de uma montanha. Lá, encontraram um velho, sujo e maltrapilho, com rosto enrugado e doente. Tratava-se do último Oráculo, pessoas do passado que eram capazes de prever o futuro. Perseguidos, os Oráculos acabaram mortos, mas aquele sobrevivera com a ajuda do mestre.
Cuidou do velho durante dois dias, e no fim do segundo dia, o mestre lhe contara o plano. Pretendia usar uma magia antiga, criada para forçar os Oráculos a verem o futuro de quem quisessem. Magia negra, poderosa. Lydul disse que não podia, era contra as regras. Mas o mestre era persuasivo. E no fim, Lydul o fez.
Foi o dia mais assustador da sua vida. A magia evocava os antigos demônios, os inimigos dos Quatro Deuses, aqueles que não possuem nomes. Lydul não era esperto, mas era conhecedor da magia e tinha talento nato. Levou três horas para concluir a fórmula, mas no fim, conseguiu. O velho Oráculo podia ver o futuro de qualquer ser de toda Dymond.
_ Diga-me, Espreitador do Futuro, que futuro aguarda Metraton, Rei dos Dragões.
Lydul gelou. O mestre era seguidor árduo do Rei Dragão. Nutria um ódio imenso quanto ao Imperador Tales, por algum motivo que ele nunca dizia, mas que o tempo não fora capaz de apagar de sua memória. Mas Lydul não queria que o Rei Dragão voltasse a atacar os povos de Dymond. Apesar de ser um elfo novo, certa vez um velho elfo lhe mostrara as memórias da guerra, e Lydul a temia muito. Talvez, se o mestre lhe tivesse dito sobre o futuro de quem queria saber, Lydul tivesse se negado a realizar a magia. Mas o que estava feito, não podia ser mudado.
Com uma voz que parecia a de mil homens, e os olhos brancos como a neve, o Oráculo fez sua profecia.
_ Metraton encontrará um aliado poderoso. Um irmão de outro irmão, que se negará a irmandade e se unirá ao Rei Dragão. Juntos, o Rei Menino e o Rei Dragão tomarão o mundo, sentarão no trono e reinarão. Juntos, todos os povos de Dymond cairão aos seus pés. Juntos, matarão o Imperador e trarão o horror para esta terra. Metraton será o soberano, e os Dragões ascenderão ao poder.
O rosto do mestre estava iluminado. Um sorriso enorme o preenchia, enquanto as palavras ressoavam nas paredes da gruta. Lydul tinha caído de joelhos, num canto, e soluçava baixinho. Limpou os olhos e levantou-se. O velho estava caído, com o rosto na areia.
Foi Lydul quem notou que ele ainda falava. Foi até o Oráculo sorrateiro, para que o mestre não o ouvisse. E um som baixo, mas tão sombrio quanto o anterior saiu da boca do Oráculo.
_ Porém, Metraton deve enfrentar os riscos. Pois pode ser que surja, entre os povos sedentos de liberdade, um parente do Rei Menino. E pode ser também que esse menino esteja destinado a encontrar Órion, a Espada Perdida. E talvez, essa arma esteja destinada a perfurar o coração negro de Metraton, e matá-lo. Portanto, Metraton deve enfrentar os riscos. Enfrentar...
E o velho Oráculo morreu.
Assim que voltaram da viagem, o mestre se trancou em sua casa, e ali permaneceu por vários dias. Lydul permaneceu escondido, pois elfos não eram aceitos na Cidade Proibida. Não que não pudessem entrar. Mas sair era sempre um problema. Lydul tentou falar com o mestre, mas não conseguiu. Até que ele o convocou.
A casa do mestre era grande, uma das maiores da Cidade Proibida. Devia ter sido financiada pelos bandidos que trabalhavam para ele. Quando Lydul viu o mestre, notou que havia perdido peso, e uma sombra pairava sobre sua face.
_ Existe um mapa.
O elfo ficou calado. Pensou bastante, até entender de que mapa o mestre falava. Pensou se por descuido seu, o homem a quem seguia tinha ouvido a segunda parte da profecia.
_ Não sei, meu mestre.
_ Não perguntei se existe um mapa, mago tolo. Existe um mapa! – A voz sempre tão calma e contida do mestre, estava agora nervosa e trêmula. – Temos de encontrá-lo antes deles.
_ Deles quem meu mestre?
_ É possível que ar de profecia tenha sido ouvida por outros magos. Se assim for, vão começar a atacar as terras dos Dragões em pouco tempo. – Fez uma pausa para ver se o elfo acompanhava. – Existe uma espada, um objeto lendário que dizem ser capaz de matar Dragões.
_ Acredito que o senhor esteja falando de Órion. – Lydul estava confuso. Se o mestre não ouvira o resto da profecia, como poderia saber da espada? – Órion é apenas uma lenda meu senhor!
_ Talvez não seja apenas uma lenda. Pode se tornar um símbolo idiota da resistência que certamente enfrentaremos. Foi assim na Primeira Guerra. Quero que a encontre apara que eu possa tê-la sob minha proteção.
E assim iniciou-se a jornada de Lydul, que durariam dois anos, e culminaria na sua fama de mago negro. Ficou conhecido em todas as terras como Lydul, o Mago Negro. Percorrera grandes florestas, adentrara nos territórios élficos, onde jurou que jamais retornaria. Cavalgou pelas pradarias centrais, escalou os Montes Vermelhos e até nas geladas terras onde vivem as feras ele esteve. Enfrentou ladrões, agentes do imperador, camponeses raivosos, soldados e todo tipo de empecilho. Mas sempre que ouvia algo sobre o mapa, investigava. Qualquer boato lhe era precioso.
E foi assim que conheceu O Sombra. O Sombra enviou-lhe uma mensagem, certa noite, dizendo-lhe que fosse imediatamente para Jaummer, a capital do Império. Lydul duvidou, a princípio, da veracidade da informação. Mas depois de tanto tempo de busca, não podia arriscar. Partiu da cidade de Vyronas, e dirigiu-se para a cidade que servia de casa para o maior inimigo do mestre.
Lydul nunca estivera na capital. Espantou-se com o majestoso Castelo de Jaummer, e com a efervescência da cidade, alegre e jovial, diferentemente da Cidade Perdida. Mas não estava ali para turismo, e tratou de se encontrar com o tal sombra, que dizia ter o mapa para a Espada.
Encontraram-se no cais em meio ao fétido odor de peixe e suor dos pescadores. Lydul não viu o rosto, Mas soube assim que a figura se aproximou que se tratava de um ser igual. Um elfo. Talvez a magia os ligasse, talvez o destino. Trajava vestes de Lord, com o brasão imperial estampado no peito. Dois homens equipados com armaduras douradas e espadas em punho o seguiam. Mas o fato é que O Sombra lhe entregou o mapa, virou-se e foi embora.
O elfo investigou o pequeno pedaço de couro, provavelmente de javali, desenhado um tanto quanto rudemente. Indicava algum lugar além das florestas cobertas de neve onde moravam as Feras. Algum lugar depois do mais longínquo braço do Okeanus. Um lugar onde os Quatro ainda visitavam o mundo mortal. A Terra da Luz.
Tratava-se de uma terra lendária, de onde teriam vindo todas as raças, tempos remotos atrás. Há muito tempo esquecida, não passava de uma lenda. Todos sabiam que após as florestas geladas, havia apenas o Okeanus, sem fundo e sem fim. Mas ali estava o mapa, dizendo que Órion estava perdida na Terra da Luz. A terra esquecida, que escondia o segredo da origem de todos os povos.
***
Lydul deixou a taberna Perdição quase pela manhã. Tratou de ajustar bem o capuz, evitando que vissem as orelhas. Não bebera o suficiente para embebedar um elfo, mas já não estava na total capacidade de seu corpo e mente. Caminhou até o mar, sentando pesadamente na areia da praia. Há alguns quilômetros podia ver o porto, movimentado com a chegada e saída dos navios, piratas em sua grande maioria. Gostava da Cidade Proibida, pensou Lydul, apesar de o fedor ser quase insuportável em alguns dias. E deixou a mente vaguear. Estava de volta, depois de algum tempo. Vivera algumas aventuras, dignas de um grande herói. Talvez fosse um herói, algum dia, quando Metraton subisse no trono com seu Rei Menino. Poderiam escrever-lhe canções, narrando sua árdua tarefa de buscar o mapa que salvaria o Rei Dragão da morte.
Estava tão absorto nestes pensamentos, que não viu o grupo de homens que se aproximou. Só notou-os quando desembainharam as espadas. Levantou sobressaltado. Sacou do punhal, que o acompanhara por todas as aventuras no norte. O punhal era uma preciosidade que ganhara do mestre. O cabo era esculpido no marfim, branco e polido, e rodeado por laços de prata. Entre a lâmina e o cabo, uma caveira de prata, com dois braços esticados e olhos de rubis brilhava. A lâmina de aço de Korydallos, a cidade dos ferreiros, brilhava na tênue luz matinal.
_ O que querem?
Eram quatro homens, todos com aspectos de mercenários. Havia muitos deles na Cidade Proibida. Cobravam barato, e matavam praticamente qualquer um. Lydul sabia que seria complicado se estivessem ali para matá-lo. E estavam.
_ Cale a boca, elfo imundo! Se resistir, faremos com que seja muito pior.
O sujeito que falou, um homem de meia idade, desdentado e cheio de brincos, avançou com a espada. O elfo desviou no exato momento em que a lâmina passaria pelo seu flanco, rolou para o outro lado, e saltou com o punhal em riste. Este por sua vez, abriu um enorme corte vertical na garganta do oponente, que caiu com a boca cheia de sangue. Os três restantes atacaram em conjunto. Lydul detinha alguns golpes com o punhal, e desvia agilmente dos outros. O maior dos mercenários conseguiu enterrar a ponta da espada no ombro do elfo, que caiu gritando, enquanto o manto manchava-se do líquido viscoso e quente. Os olhos do elfo se estreitaram, enquanto desenhava com o sangue do ombro símbolos nas mãos.
_ Parem-no! Não o deixem fazer magia, idiotas! – Gritou um dos homens. Os três caíram sobre ele, mas já era tarde. Antes que as espadas o tocassem, um feixe de fogo arremessou-os para longe. Lydul sabia que magia de fogo era proibida aos elfos, mas era a mais destrutiva que ele conhecia, e no momento não calculou riscos.
Levantou-se e aproximou-se dos homens caídos, com várias queimaduras pelo corpo. Rezou para que fossem acolhidos no mundo dos mortos com paz. E lançou o feitiço mais uma vez.
Correu para o local onde tinha encontrado o mestre na noite anterior. Estava vazio. Alguma coisa estava errada, e precisava agir rápido. Lydul estava ferido, sangrando bastante, mas tinha de saber quem havia contratado aqueles mercenários. E por que.
A casa do mestre estava silenciosa, escura. Não havia no portão os guardas que ali ficavam costumeiramente. Como um gato, o elfo percorreu os muros da casa, entrando no terreno pelos fundos. Ouviu vozes que vinham de um cômodo pequeno, que não era utilizado pelo mestre. De repente um grito de dor. Sem fazer barulho, Lydul correu até a janela da casa, e olhou para dentro. Gelou.
Um homem de roupa branca com detalhes nas cores do Império e cabelos cinza tinha rendido o mestre, e provavelmente o torturava. O mestre estava amarrado numa cadeira, e tinha fumaça saindo do corpo. O homem ergueu a mão e conjurou um raio. O mestre já estava quase inconsciente, com espasmos pelo corpo. Um mago era um inimigo muito pior do que mercenários assassinos. Mas Lydul tinha de agir depressa, mesmo ferido e com poucas chances de vencer. O mestre já o salvara da morte certa uma vez, quando estava nas mãos dos piratas. Agora era sua vez de retribuir.
Desenhou um pequeno símbolo na palma da mão com o sangue que ainda insistia em escorrer da ferida no ombro, e rezou para ter mana suficiente para realizar o feitiço. Pulou a janela com agilidade estupenda, e se postou entre o homem, surpreso, e o mestre.
_ Seja quem for, ordeno que saia dessa casa e deixe esse homem em paz. Se não, acabarei com a sua vida!
O homem analisou-o com cuidado. Enfrentar um elfo nas artes mágicas era sempre mais complicado, e Lydul tinha esperança de que isso assustasse seu adversário.
_ Bem, era exatamente por você que eu procurava, Lydul, o Mago Negro. Mas esse homem se negava a me dizer onde você estava... – O homem era claramente agente de Tales. O que poderia querer com ele?
_ Não sei o que quer de mim, mas se deixa-lo livre, poderei negociar contigo. – Usou as palavras com cuidado. Mais um único golpe e talvez seu mestre estivesse morto.
_ Antes, permita-me testar sua habilidade com a magia! – E apontou o dedo indicador para o elfo.
Lançou um raio na direção do Lydul, que ergueu a palma da mão e um escudo invisível refletiu a magia, que atingiu o peito do mago em cheio. Aparentemente surpreso, o mago se recompôs rapidamente, e pôs-se a recitar uma ladainha baixa e frenética. O elfo não a conhecia, mas temeu-a. Imediatamente criou uma barreira anti-feitiços ao seu redor, e quando o homem terminou de recitar sua fórmula, olhou em sua direção esperando que ele sofresse algum dano. Pareceu surpreso.
_ Então é capaz de anular feitiços físicos e mentais. Esplêndido! Poucas pessoas neste mundo são capazes de anular este feitiço. – Bateu as mãos na túnica, e se dirigiu a porta. – Você vem comigo, jovem elfo.
_ Por que eu trairia meu mestre por você?
_ Por que você me levará até Órion, antes que Metraton coloque suas patas na espada sagrada. Para impedir que essa terra mergulhe nas sombras definitivas. Para evitar o Fim da Era do Império! – Surpreso, o elfo pareceu duvidar que as palavras houvessem de fato saído da boca do homem. Como ele poderia saber da profecia? O mago notou a surpresa em seu rosto. – Não pensou que somente seu Mestre tivesse um Oráculo guardado, pensou? A Ordem esta de posse de um exemplar poderoso como jamais se viu antes. E apesar de ser escolha sua, sei que virá comigo, pois o caos que Metraton propõe não o agrada.
_ Fui expulso de meu povo. Sou um Renegado como todos os outros. Jamais poderei viver livremente no território Imperial, bem sabes disso. – Lydul ponderou se seria bom ou ruim poder voltar livremente às terras que percorreu como fugitivo por tantos anos.
_ Tales concorda em lhe conceder a anistia junto aos elfos se você for capaz de guiar-nos até Órion. – Disse o Mago, impaciente.
Se o soberano de Dymond queria ter Lydul entre os seus, significava que finalmente ele era importante pra alguém. Observou o mestre caído, que já se recuperava dos choques e tentava se erguer, e sentiu uma imensa culpa por não tê-lo avisado sobre a segunda parte da profecia. Mas não havia mais tempo, e se quisesse retornar a Dymond, tinha de tomar uma atitude rápida.
_ Eu vou! – Disse, indo em direção ao mestre. Colocou as palmas das mãos sobre o peito musculoso do homem e uma luz esverdeada se lançou sob seu corpo. – Essa é a minha última missão, mestre.
***
Enquanto embarcava no navio pirata, Lydul olhou uma última vez para a Cidade Proibida. Ragnarók era seu verdadeiro nome, mas o Império o proibiu de ser usado, pois fora dali que se ergueram, a muito tempo, os exércitos sob o comando dos Dragões. Virou-se para o homem a quem seguiria a partir de agora.
_ Meu nome você já sabe. Agora diga-me como se chama, mago.
Os olhos do homem brilhavam em um tom de verde que o elfo jamais vira.
_ Sou Kallíope, Vice Supremo Conselheiro da Ordem Sagrada!

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